quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Blues do elevador

Ora quem é que não sabe
O que é se sentir sozinho
Mais sozinho que um elevador vazio
Achando a vida tão chata
Achando a vida mais chata
Do que um cantor de soul
Sou eu quem te refresca a memória
Quando te esqueces de regar as plantas
E de dependurar as roupas brancas no varal
Só faz milagres quem crê que faz milagres
Como transformar lágrima em canção
Vejo os pombos no asfalto
Eles sabem voar alto
Mais insistem em catar as migalhas do chão
Sei rir mostrando os dentes
E a língua afiada
Mais cortante que um velho blues
Mas hoje eu só quero chorar
Como um poeta do passado
E fumar o meu cigarro
Na falta de absinto
Eu sinto tanto eu sinto muito eu nada sinto
Como dizia Madalena
Replicando os fariseus
Quem dá aos pobres empresta
A deus

Zeca Baleiro

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Saudade

ai ai vai ver é só você querer
distante imaginar
caberia a quem dizer
amor eu vivo tão sozinho de saudade

Marcelo Camelo
In: sou

Não sei pq a harmonia dessa música me lembra muito a trilha sonora do filme Cinema Paradiso, que ficou por conta do grande Ennio Morricone. Não que se pareçam assim, no sentido estrito da palavra, mas dialogam de alguma forma (pelo menos para mim).

sábado, 27 de junho de 2009

batismo de sangue

Quando os regatos límpidos do meu ser secarem,
minha alma perderá sua força.
Buscarei, então, pastagens distantes.
Lá onde o ódio não tem teto para repousar...
Nos dias primaveris, colherei flores para o meu jardim da saudade.
Assim, exterminarei a lembrança de um passado sombrio.


Batismo de Sangue, filme dirigido por Helvécio Ratton, inspirado no livro homônimo de Frei Betto. O trecho acima, ao que me parece, é atribuído a Frei Tito, religioso franciscano torturado durante a ditadura militar no Brasil. No filme, a interpretação vigorosa e comovente de Caio Blat nos faz viajar pelo universo angustiado de um ser humano vítima da tortura. Vale à pena assistir.
Dedico este post ao broder Samuel Neves.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

É pior do que se entrevar...

A saudade é uma das vicissitudes do amor
É preciso lembrar pra esquecer
É preciso peito pra guardar a dor


De tudo que foi derramado

amado

amado

amado

no chão que pisastes, com lâminas em teus pés

és?

ainda és...

Quem me faz lembrar
que na vida somos sós.
fim da chama é a cinza.
fim da vida é esperar.
Um eu que queria ser nós.
Um eco que queria saber gritar.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Tudo que agôo morre

Tudo que agôo morre.
Foi assim com o jasmineiro, com o alecrim
E as outras rosas...
Tenho uma mão podre que contamina o solo
E as horas,
Que não passam, insistem em morrer.
O seu odor acre infesta os ambientes e interiores.
Tem cheiro de flor, vela e incenso.
Cheiro de caixão.
De praça abandonada
Com folhas secas no chão.
De flores e frutos apodrecendo ao Sol.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Incontável coração
banhado em odes aflitas
à vida
vinda
da cálida aurora de mais um despertar

Brilha,
herética pureza do olhar!
Rasga bons sensos, consensos
conselhos redentos.
Sê a chama inusitada
a incendiar as torpes manhãs
das existências falidas.

Antenas e janelas o espreitam
mas teu séquito imenso
não há quem veja-
explode em teu peito.

Eis que te encontro,
jogador cerebral
de da(r)dos virtuosos:

É do céu

É do mato

É do véu

É do ato

É do queimo

É do afago

É do sinto

É do sou

É do ardo

Victor Hugo out/08

Grandes versos de um grande parceiro que a vida me presenteou com a convivência intensa nos anos de ouro da nossa vida.